Cidade perdida no Egito revela segredos de um dos maiores faraós da Antiguidade

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Créditos: por MusikAnimal - Own work, CC BY-SA 4.0

Arqueólogos no Egito descobriram uma “cidade dourada perdida” de 3.400 anos perto de Luxor, considerada uma das descobertas mais importantes desde a tumba de Tutancâmon. A cidade remonta ao reinado de Amenhotep III e foi usada também por seu filho Akhenaton. Ela revela detalhes sobre a vida cotidiana e a organização urbana do antigo Egito, com casas, cerâmicas e ferramentas em excelente estado de conservação.

O cenário parece saído de um épico antigo: um faraó determinado, uma população deslocada e uma cidade esquecida no deserto. Mas essa história é real e aconteceu há mais de 3.300 anos no Egito Antigo.

Durante o reinado do faraó Akhenaton, conhecido por promover uma das maiores revoluções religiosas do mundo antigo, os moradores de uma próspera cidade egípcia foram forçados a abandonar tudo. O motivo? A imposição de uma nova fé centrada no culto exclusivo ao deus-sol Aton.

Segundo o renomado egiptólogo Zahi Hawass, Akhenaton ordenou que as casas e oficinas da cidade fossem seladas com tijolos de barro. A população então partiu para um novo destino, atendendo ao desejo do faraó. “Quando o rei toma uma decisão, todos obedecem. Este é o faraó”, afirmou Hawass à NBC News.

O abandono foi tão repentino que muitos bens pessoais ficaram para trás: joias, utensílios de cerâmica, sandálias, brinquedos e até uma pá semelhante às usadas hoje para assar pão. Esses artefatos, agora resgatados por arqueólogos, oferecem um vislumbre fascinante da vida cotidiana naquela época.

Descoberta apenas quatro anos atrás por arqueólogos em busca de um templo mortuário, a antiga cidade – batizada de “Cidade Dourada Perdida” – ainda guarda muitos mistérios. Um dos achados mais curiosos é o de um peixe coberto de ouro, cuja finalidade ainda intriga os pesquisadores.

Peças de cerâmica pintadas de azul, tradicionalmente usadas pela realeza, continuam sendo desenterradas, assim como cerca de 500 estátuas da deusa Sekhmet, associada à cura. Para os especialistas, esses objetos indicam que a cidade viveu um período de grande prosperidade, possivelmente durante a chamada “era de ouro” do Egito.

Hoje, o local está cercado por uma cerca de metal e margeado por uma estrada poeirenta, perto da moderna Luxor. Os trabalhos arqueológicos seguem sob o sol intenso, revelando estruturas como um lago artificial com ancoradouros para barcos – provavelmente usados para transportar mercadorias pelo Nilo.

Outros elementos impressionam: muros ondulados, típicos da arquitetura egípcia, foram construídos para conter enchentes e delimitar áreas de trabalho externas, protegidas do calor. A cidade fica próxima a monumentos emblemáticos, como os Colossos de Mêmnon, o Templo de Madinat Habu e o Ramesseum, todos testemunhas da grandiosidade da XVIII dinastia.

As escavações recentes revelaram ainda edifícios administrativos que lembram delegacias ou prefeituras, o que reforça a ideia de uma cidade organizada e com infraestrutura avançada. “É como um retrato congelado no tempo”, disse a egiptóloga Salima Ikram, da Universidade Americana do Cairo.

Ela relata que os operários simplesmente deixaram suas ferramentas onde estavam. “Eles estavam cortando couro, fabricando sandálias… e de repente, tudo parou.”

Em uma das paredes da cidade, os arqueólogos encontraram o símbolo do sol – uma possível evidência da transição religiosa que Akhenaton promoveu. Para Hawass, esse pode ter sido o primeiro movimento de monoteísmo documentado da história. Já outros estudiosos preferem a interpretação do henoteísmo, onde se adora um deus principal sem negar a existência de outros.

Akhenaton, que enfrentou a oposição dos poderosos sacerdotes ligados ao culto de Amon, fundou uma nova cidade chamada Akhetaton (atual Tell-el Amarna), cerca de 320 km ao sul do Cairo, para centralizar o culto a Aton. Segundo Hawass, a inspiração pode ter vindo de seu pai, o faraó Amenófis III.

A rainha Nefertiti, sua esposa, também teria caminhado pelas ruas da antiga cidade ao lado do marido, em uma época marcada por profundas mudanças espirituais e políticas.

Apesar do impacto da reforma religiosa, as práticas anteriores não desapareceram completamente. “Durante o reinado de Amenófis III, a religião já dava sinais de valorização solar, mas Aton coexistia com outras divindades”, explicou Yasmin El Shazly, do Centro Americano de Pesquisa no Egito.

No entanto, sob Akhenaton, mencionar outros deuses – especialmente Amon – passou a ser proibido.

Após sua morte, a cidade de So’oud Aten continuou a ser usada por outros faraós, incluindo Tutancâmon, cujo túmulo foi encontrado quase intacto no Vale dos Reis em 1922.

O que os antigos egípcios pensaram ao deixar So’oud Aten ainda é um mistério. Para Hawass, o fato de terem lacrado suas casas pode indicar a esperança de um dia retornar.

“Mas ninguém podia se opor ao faraó”, concluiu. “Ninguém podia falar com o rei.”

Fonte:

NBC NEWS. Egypt’s ‘lost golden city’ continues to reveal ancient treasures and secrets of pharaoh Akhenaten. NBC News, [s.l.], 07 abr. 2024. Disponível em: https://www.nbcnews.com/news/world/egypt-lost-golden-city-ancient-treasures-pharoah-akhenaten-rcna199960. Acesso em: 12 abr. 2025.

NBC NEWS. 700,000 years of Egyptian history finds enormous new home. NBC News, [s.l.], 01 mar. 2024. Disponível em: https://www.nbcnews.com/news/world/700000-years-egyptian-history-finds-enormous-new-home-rcna175243. Acesso em: 12 abr. 2025.

NBC NEWS. Egypt uncovers ancient city near pyramids. NBC News, [s.l.], 08 maio 2008. Disponível em: https://www.nbcnews.com/id/wbna24426101. Acesso em: 12 abr. 2025.

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