Como funciona o sistema educacional sueco para as crianças suecas e não-suecas

Créditos: Lena Granefelt/Agent Molly & Co

A ideia deste artigo é de mostrar como se estruturou o sistema educacional sueco e como hoje ele se encontra. Aprender como ele foi montado, as escolhas políticas e sociais implícitas desses sistema que é basicamente público e universal com possibilidades privadas ou parcerias público-privadas no país nórdico.

Como tudo começa?

Depois de completar um ano de idade (que coincide com período final do tempo de licença para os pais remunerada, que hoje na Suécia é de 480 dias no total), o bebê na Suécia pode comparecer ao que diríamos ser a nossa pré-escola (‘förskola’, também conhecida coloquialmente como ‘dagis’), que é fortemente subsidiada pelo estado sueco, mas não é obrigatória para as crianças até 6 anos de idade. 

Já a partir dos 6 até os 16 anos a escola é obrigatória (e gratuita) para todas as crianças na Suécia, e é dividida em diferentes estágios.

A partir do outono do ano em que a criança completa 6 anos, há a classe pré-escolar obrigatória de um ano (förskoleklass), antes que o “grundskola” (escola primária ou júnior) seja iniciada no ano seguinte. Isso fornece uma ponte útil entre os métodos de aprendizagem da pré-escola e da escola primária. Como o que chamamos de pré-escola não é obrigatório, esse um ano antes serve para dar um mínimo de ambientação e nivelamento para todas as crianças, mesmo aquelas que nunca tenham estado em uma escola antes.

Depois disso, a grundskola é dividida em “lågstadiet” (estudos iniciais, anos 1 a 3, começando no outono do ano em que a criança complete o seu 7º aniversário), “mellanstadiet” (estudos médios, anos 4 a 6) e högstadiet (estudos superiores, anos 7 a 9). Seriam os equivalentes às séries de 1 a 9 no Brasil.

Depois disso, o ensino médio de 3 anos ou “gymnasieskola” não é obrigatório, mas atendido pela maioria dos adolescentes suecos (que geralmente começam o ano no ano em que completarem 16). Nesse período os estudos visam preparar crianças para educação universitária ou vocacional. Existem 18 programas diferentes para escolher (6 voltados para educação superior e 12 profissionais), bem como cinco “programas introdutórios” para estudantes cujas notas não foram suficientemente altas para levar um dos outros 18 programas. Após o programa introdutório, eles podem avançar para um dos 18 programas nacionais.  Reparem, que os alunos de menor desempenho tem um ano inteiro preparatório para entrarem nos programas de nível superior.

Muitas escolas podem oferecer ensino para as séries de 1 a 9, enquanto outras podem terminar mais cedo ou podem oferecer o ensino Grundskola e Gymnasieskola. Este pode ser um fator importante para os pais cujos filhos provavelmente permanecerão na Suécia por todo o período escolar.

Além de ser dividido nessas etapas cronológicas, o sistema escolar também pode ser dividido em diferentes tipos de escolas.

Muitas escolas são administradas pelo município local, e todas elas são gratuitas para participar e seguir o currículo sueco. Existem também escolas independentes e escolas privadas, que são duas categorias distintas.

Parcerias Público-Privadas no Ensino

As escolas independentes, também conhecidas como “escolas charter” ou “friskolor”, podem solicitar o financiamento conhecido como “skolpeng” (literalmente “dinheiro da escola”) de Skolverket (Agência Nacional Sueca para Educação), se receberem a aprovação oficial da agência e concordarem em seguir as diretrizes governamentais sobre educação. As escolas que recebem esse financiamento, incluindo muitas escolas bilíngües e internacionais, podem participar gratuitamente. Também é útil saber que essas escolas não podem cobrar por livros didáticos ou viagens escolares. Importante: não é um dinheiro que deve ser devolvido (como o FIES brasileiro para ensino superior). É uma bolsa da qual toda criança sueca tem direito para o caso de não estudarem nas escolas públicas gratuitas por fundamento.

Escolas privadas são raras

Alternativamente, também há um pequeno número de escolas privadas que cobram taxas/mensalidades onde você pode optar por enviar seu filho se você preferir, embora haja muito menos do que na maioria dos outros países como no Brasil. Estes não estão vinculados ao currículo sueco ou ao programa escolar, e podem seguir o Currículo Nacional Inglês ou outro sistema escolar. Essa alternativa é uma opção permitida pelo sistema nos casos como expatriados que ficarão pouco tempo, temporariamente na Suécia e não precisam ou não querer seguir o currículo do país nórdico ou simplesmente pela liberdade de escolher uma educação mais internacionalizada (apesar da educação sueca ter uma visão bem globalizada de conhecimentos e valores).

Crianças com dificuldades de aprendizagem ou outras necessidades especiais têm o mesmo direito à educação que qualquer outra criança na Suécia, e há escolas dedicadas a crianças com deficiência auditiva e com dificuldades de aprendizagem, por exemplo, onde receberão apoio extra.

Escola internacional ou sueca?

Ao contrário de muitos países, várias escolas nacionais e inglesas da Suécia são totalmente gratuitas para se matricular e estudar, porque elas se enquadram na categoria de escolas autônomas independentes.

Sala de aula de uma das turmas da Internationella Engelska Skolan em Eskilstuna, Suécia. Créditos: Internationella Engelska Skolan

A Escola Internacional de Inglês (Internationella_Engelska_Skolan) é uma das maiores no país, com escolas em diversos locais ao redor do território sueco, de Umeå no norte a Lund no sul.

Ensino em outros idiomas diferentes do inglês e sueco

Para famílias com um idioma nativo diferente do inglês, há menos opções, mas dependendo de onde você está localizado, você pode encontrar a escolaridade no seu  idioma. A Suécia (principalmente Estocolmo) abriga escolas francesas, finlandesas, alemãs, gregas, espanholas e holandesas.

Mas, se não for possível ou prático para o seu filho frequentar a escola em sua língua nativa, os pais também devem estar conscientes de que a “taxa de matrícula na língua materna” está freqüentemente disponível para estudantes que falam um idioma diferente do sueco ou inglês em casa. Os filhos desta categoria são, em muitos casos, titulares de lições adicionais na língua materna e de ensino em sueco como segunda língua.

Uma das primeiras decisões a tomar, portanto, é se procurar uma escola internacional ou sueca.

Entre as escolas internacionais da Suécia, algumas ensinam o currículo sueco e outros o programa do Bacharel Internacional (IB), onde algumas das grandes escolas oferecem uma escolha entre os dois. Uma lista das escolas suecas que oferecem o programa do Bacharel Internacional pode ser encontrada aqui.

Um fator chave é o tempo que você planeja que sua família fique na Suécia. Se a mudança for temporária, por exemplo, se você foi enviado para o exterior em um contrato específico, uma escola internacional pode oferecer aos seus filhos a melhor chance de continuidade na escolaridade, sem a necessidade de aprender o sueco ou se adequar ao currículo local.

No entanto, uma vez que estas escolas tendem a concentrar-se em atender às necessidades das crianças apenas na Suécia por alguns anos, elas podem não ser tão adequadas para as crianças que provavelmente passarão toda a sua infância na Suécia.

Se o período de estadia for longo ou permanente, e particularmente se um dos pais da criança for sueco, pode fazer mais sentido para eles participar de uma escola sueca. Muitas escolas são descritas como bilíngues, mas vale a pena falar com o pessoal da escola e, se possível, pais de estudantes dela para descobrir exatamente o quanto do ensino é oferecido em cada idioma (algumas escolas oferecem todas as aulas em inglês, enquanto outras oferecem metade em inglês e metade em sueco ou em outra combinação) e qual o nível que os alunos geralmente alcançam quando deixam a escola. Saem fluente em inglês? Saem fluentes em Sueco? Nesse sentido.

A geografia será outro fator a considerar, uma vez que muitas das escolas internacionais da Suécia estão baseadas nas principais cidades do país. Se você mora fora dessas áreas, sua escolha será limitada, embora existam escolas internacionais em algumas cidades menores, incluindo Gränna em Småland, sede de um internato privado (pagador), e Helsingborg, que tem um financiamento municipal escola Internacional.

Como escolher?

Depois de escolher se deseja que seus filhos vão para uma escola internacional ou sueca, você enfrentará outro conjunto de decisões, algumas específicas para a Suécia e outras mais gerais.

Você pode querer que seus filhos possam caminhar ou ir para a escola, ou para frequentar uma escola próxima ao seu local de trabalho. É possível encontrar os endereços e mapas das escolas locais administradas pelo município no município ou no site da Skolverket.

Se você estiver interessado em fatores como índices estudante-professor e notas médias, você pode verificar o site Välja skola, administrado pela Skolverket, que permite comparar diferentes escolas usando vários critérios. O site está disponível apenas em sueco, mas, ao usar uma extensão de navegador para traduzir, você deve entender a maioria das informações. Também é possível comparar informações sobre escolas no site da Inspetoria de Escolas da Suécia.

Os computadores estão se tornando parte do ambiente educacional na Suécia e a maioria das escolas tem computadores que os alunos podem usar quando estão na escola.
Créditos Lena Granefelt/imagebank.sweden.se

E é claro que você pode se organizar para visitar as escolas locais que despertaram seu interesse para fazer mais perguntas e ter uma idéia da atmosfera na escola. Lá, você também pode perguntar quantos estudantes internacionais existem na escola e quais são as provisões para falantes não suecos nativos, se isso é importante para você, bem como qualquer outra questão sobre instalações, classificação, comunicação entre pais e professores e assim por diante .

Indo morar na Suécia e querendo saber como se aplicar?

É possível candidatar-se a uma escola no município que você estiver morando na suécia ou uma municipalidade vizinha, enviando um pedido ao município. Os pedidos para o ano letivo no outono ocorrem no final de janeiro a início de fevereiro, e os pais devem receber uma resposta definitiva em abril. As escolas que recebem financiamento público têm que ter pedidos abertos, no entanto, se uma escola é superposta, a prioridade será dada às crianças que vivem mais próximas da escola ou tenham um irmão já matriculado na escola. Estas últimas regras inclusive copiadas no Brasil para o ensino público na maioria das cidades.

Se você chegar na Suécia após o período de inscrição, ou está se candidatando a uma escola independente, você deve contatá-los diretamente para descobrir como se inscrever. Muitas das escolas internacionais populares têm longas listas de espera, por isso é uma boa ideia inscrever o seu filho o mais rápido possível se você tiver uma forte preferência por alguma escola em específico. Isso geralmente é possível, desde que seu filho tenha um número pessoal sueco (algo semelhante a um CPF, visto que é emitido pela Agência de Impostos, uma Receita Federal sueca) e se você já está na Suécia ou tenha planos fixos para se mudar.

Se o seu filho está começando em uma escola sueca no meio da carreira escolar, a escola decidirá em qual classe eles começam, geralmente nos primeiros dois meses na escola. Novos alunos podem receber lições extras em sueco junto de suas outras aulas, a fim de ajudá-los a alcançar outros alunos e facilitar a transição.

A Suécia é um país extremamente globalizado e preparado para o apoio na educação das crianças. Uma regra de ouro no regime global de  Welfare praticado nos países nórdicos é a de apoio total a educação na infância. Os incentivos públicos das escolas públicas além do apoio financeiro para matrículas em instituições privadas foram as formas complementares dos Governos Suecos de garantir a expansão de vagas  e universalizar a educação no país.

Suécia no PISA

Histórico da Evolução no PISA da Suécia desde a primeira avaliação em 2000. Uma recuperação em todos os quesitos em 2015

A diferença de desempenho no PISA entre meninos e meninas na Suécia é uma das menores de toda a OCDE.  Ela conseguiu ficar a frente, no geral, de países  europeus como Espanha, Itália, Rússia, Islândia. Mas ficou atrás dos vizinhos Estônia, Finlândia, Noruega e Dinamarca.

Depois e uma sequencia de quedas nas pontuações do PISA a partir do ano 2000, a Suécia, no último ano da avaliação, em 2015,  passou a pontuar melhor do que no ano anterior. Muito cedo para entender pelo fato de isso ser ou não uma tendência, mas pelo fato de se tratar de uma avaliação que acontece em de 3 em 3 anos (a próxima será neste ano de 2018), é possível entender como uma evolução.  Mas deixarei para um outro artigo a avaliação mais detalhada sobre as razões dessa melhora depois das últimas avaliações.

Em todos os países da OCDE, a percentagem de estudantes que repetiram uma série ao menos até os 15 anos de idade diminuiu por quase 3 pontos percentuais entre 2009 e 2015. Na Suécia, essa participação diminuiu em 2 pontos percentuais durante o mesmo período.

A repetência de ano é mais prevalente nos sistemas escolares onde os alunos obtêm uma classificação mais baixa na avaliação científica PISA e onde o desempenho é distribuído de forma menos equitativa. Os alunos podem ter sido reprovados de volta para tentar aprender novamente o conteúdo do curso que eles não tinham dominado completamente; ou eles poderiam ter sido convidados a ignorar uma nota quando seus professores sentiram que eram capazes de assumir tarefas escolares mais desafiadoras.

Aliás, vale a pena conferir o estudo específico sobre o PISA 2015 da Suécia aqui.

Veja abaixo o resumo do ranking do PISA 2015.

PISA 2015. Suécia ficou com 493 pontos em Ciências, 500 em leitura e 494 em Matemática

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