Como o ensino público e universal vem transformando a Estônia e já é o melhor da Europa

Crianças em aula de códigos de programação em escola em Tallinn

Breve histórico

Quando a Estônia recuperou sua independência em 1991, depois do colapso da União Soviética, menos da metade da sua população tinha uma linha telefônica e seu único link independente para o mundo exterior era um celular finlandês escondido no jardim do ministro dos Negócios Estrangeiros. Duas décadas depois, é líder mundial em tecnologia. Os geeks estonianos desenvolveram o código por trás do Skype e do Kazaa (uma rede inicial de compartilhamento de arquivos).

Em 2007 tornou-se o primeiro país a permitir a votação on-line nas eleições gerais (diferente de urna eletrônica brasileira que precisa das sessões físicas no dia da eleição). Tem entre as velocidades de banda larga mais rápidas do mundo e mantém o recorde com o índice de número de start-ups por pessoa. Os seus 1.3 milhões de cidadãos pagam por espaços de estacionamento com os seus  smarphones e têm seus registros de saúde armazenados na nuvem digital (99% da população). A declaração anual do imposto de renda online  já é feita por  95% dos estonianos e leva cerca de cinco minutos. Como o menor estado banhado pelo Báltico (apesar de não se considerarem da cultura Báltica) desenvolveu uma cultura tecnológica tão forte?

A (re)fundação foi estabelecida em 1992, quando Mart Laar, o primeiro-ministro da Estônia na época, desfibrilou a economia pós União Soviética. Em menos de dois anos, o seu jovem governo (idade média: 35) concedeu à Estônia uma taxa fixa (flat tax)de imposto de renda (21%), comércio livre, dinheiro sólido e privatização de serviços públicos (com algumas exceções estratégicas). Novas empresas podem ser registradas sem problemas e sem atrasos, um impulso importante para os geeks interessados em abrir a sua. A infra-estrutura Feeble, um legado da era soviética, significou que a classe política começou com uma folha em branco.

Quando a Finlândia decidiu atualizar para conexões telefônicas digitais, ofereceu a sua rede telefônica analógica dos anos 1970  para a Estônia gratuitamente. A Estônia declinou a proposta e construiu um sistema digital próprio. Da mesma forma, o país passou de: não ter  local de registros de terra para: criar um sem papel. Quando o Mosaic (o primeiro navegador web popular, anterior ao Netscape e Internet Explorer) tinha acabado de ser lançado, todos na Estônia já estava em condições iguais com o resto do mundo. Essa é uma das afirmações de Toomas Hendrik Ilves, o presidente da Estônia de 2006 a 2016 .  Os  jovens ministros do país colocaram fé na internet como base de seu desenvolvimento.

Tecnologia nas salas de aula

Um projeto nacional para equipar salas de aula com computadores seguiu e, em 1998, todas as escolas estavam online. Em 2000, quando o governo declarou o acesso à Internet como um direito humano, a web se espalhou para os interiores do país. O acesso Wi-Fi gratuito tornou-se comum. Selos, papel carbono e filas longas deram lugar ao “governo eletrônico”. O setor privado seguiu: a venda do Skype para o eBay em 2005, por US $ 2,6 bilhões, criou uma nova classe de investidores estonianos que fizeram dezenas de milhões de euros de suas ações e  estão colocando sua experiência e seus ganhos a postos para serem usados. Hoje, a Tehnopol, um centro de negócios em Tallinn, abriga mais de 150 empresas de tecnologia.

Dado o pequeno mercado interno do país, as empresas em fase inicial foram forçadas a pensar globalmente. Essa afirmação é de Taavet Hinrikus, o primeiro funcionário da Skype e co-fundador do TransferWise, um serviço de transferência de dinheiro peer-to-peer cujos clientes estão espalhados pela Europa e América. De acordo com o Banco Mundial, mais de 14.000 novas empresas registradas na Estônia em 2011, 40% a mais do que no mesmo período de 2008. As indústrias de alta tecnologia agora representam cerca de 15% do PIB.

Uma das ideias muito difundidas na Estônia é a de que o sucesso do país está em abandonar tanto o legado tecnológico quanto também o “pensamento legado”. A replicação de um procedimento de declaração de imposto de renda baseado em papel para um computador, por exemplo, não é bom; agora, ter tais formulários pré-preenchidos para que o contribuinte tenha apenas que verificar os cálculos fez do sistema um sucesso. A educação também é importante: no ano passado, em uma parceria público-privada, foi anunciado um programa chamado ProgeTiiger (“Programming Tiger”), para ensinar aos cinco anos os conceitos básicos de programação/lógica/codificação. Por que público privada? Porque basicamente o sistema educacional é público, para todos, e uma empresa privada ficaria a cargo de construir esse conteúdo programático e providenciar os requisitos técnicos para tal.

Educação Pública e Universal

Com foco na equidade, o país do norte da Europa juntou-se silenciosamente às fileiras da elite de educação global.

De acordo com as Diretrizes das Escolas Básicas e as  do Ensino Médio Superior, os custos de funcionamento da escola serão sempre cobertos pelo administrador da escola. Na maioria dos casos, isso significa: governos locais. Os governos locais estão autorizados a estabelecer, reorganizar e fechar escolas de educação geral. Os governos locais mantêm a conta do número de crianças obrigatórias, asseguram o controle do atendimento escolar, providenciam o transporte escolar e o fornecimento de refeições escolares e realizam outras várias funções relacionadas.

O número de alunos nas escolas municipais é usado para calcular a quantidade de subsídios estatais alocados do orçamento estadual aos municípios. O subsídio estadual é usado para cobrir despesas com salários dos professores, impostos sociais, treinamento e livros didáticos. Subsídios similares também são disponibilizados para escolas privadas de educação geral conforme prescrito pela Lei de Escolas Privadas. Ao fazê-lo, o Estado se abstém de prescrever diretrizes quanto ao uso dos fundos alocados. O governo local reserva-se a obrigação e o direito de financiar escolas com base nas suas necessidades reais.

Evolução no PISA

O PISA foi introduzido em 2000 e testou alunos de três em três anos desde então. O PISA 2015 da OCDE testou cerca de 540.000 estudantes de 15 anos em 72 países (incluindo o Brasil) e economias em ciência, leitura, matemática e resolução colaborativa de problemas. O foco principal era a ciência, uma parte cada vez mais importante da economia e da sociedade de hoje.

De acordo com o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, uma métrica global para educação, elaborada pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os resultados dos jovens estonianos de 15 anos são os melhores da Europa e entre os mais fortes do mundo inteiro .
O estudo PISA de 2015 concentrou-se em ciências naturais e também testou alunos em matemática e leitura funcional.

Em matemática, os jovens estonianos ocuparam o segundo lugar na Europa, juntamente com a Suíça, e nona no mundo. Quase 90% dos jovens estonianos têm pelo menos o conhecimento básico em matemática, que coloca a Estônia entre os cinco melhores países.

Nas habilidades de leitura funcional, os alunos da Estônia vêm em terceiro lugar na Europa e sexto no mundo.

Resultados do PISA em Matemática (Math), Leitura (Reading) e Ciências (Science)

De acordo com o estudo, o conhecimento e as habilidades dos jovens estonianos de 15 anos em biologia, geografia, física e química estão entre os melhores do mundo – o primeiro na Europa e o terceiro na escala global. O número de alunos com maior desempenho, que podem resolver tarefas extremamente complexas, é maior do que nunca – ficando em 13,5%, enquanto a média da OCDE é de 8%. Entre os países europeus, a Estônia tem o menor número de alunos de baixo desempenho – menos da metade  que as médias de outros países, informou o ministério da educação da Estônia em um comunicado.

Determinação dos Professores e das Escolas estonianas

A ministra da Educação da Estônia, Mailis Reps, diz que os resultados mostraram que as escolas da Estônia são ambiciosas e os professores são muito determinados em sua missão.

“Desenvolvemos nosso sistema educacional trabalhando nos princípios corretos porque o efeito dessas mudanças também será visto em 10-15 anos”, disse ela. “Estou feliz por termos assegurado e mantido o status de um país superior no campo da educação, apesar das nossas limitações em comparação com outros países”.

O estudo PISA leva em consideração a capacidade dos alunos de usar seus conhecimentos. “É por isso que esses resultados são mais importantes do que apenas o teste do conhecimento”, diz Gunda Tire, o administrador do estudo na Estônia. “Queremos saber se os jovens estão prontos para os desafios no futuro e como o sistema educacional estoniano apoia isso”.

Em contrapartida, o estudo PISA disse que, embora a diferença nos resultados de meninos e meninas tenha diminuído, ainda há meninos mais fracos do que meninas. O estudo também apontou que há uma diferença significativa ao comparar as escolas de língua estônia e russa no país.

A Surpresa inesperada

A maioria dos educadores e formuladores de políticas podem mostrar uma lista de potências educacionais internacionais: Coréia, Cingapura, Japão e Finlândia.

Mas o membro normalmente esquecido nessa lista  é  exatamente a Estônia. Mesmo que os educadores de todo o mundo foquem na Finlândia para descobrir sua fórmula mágica, a Estônia, apenas a duas horas de navio não despertou o mesmo grau de interesse.

Isso poderá mudar se o país permanecer em sua trajetória ascendente. Em 2012, os jovens de 15 anos da Estônia ocuparam o 11º lugar em matemática e leitura e sexto em ciência nos 65 países que participaram de um teste internacional que compara sistemas educacionais de todo o mundo (chamado Programa de Avaliação Internacional de Estudantes ou PISA) .

Além de derrotar as nações ocidentais, como a França e a Alemanha, e praticamente empatar com a Finlândia em matemática e ciência, a Estônia também teve o menor número de alunos com baixo desempenho de toda a Europa, cerca de 10% em matemática e leitura e 5% em ciência.

Esses números diferem consideravelmente de como os Estados Unidos estão se apresentando, o que continua a ficar preso no meio do bolo em todas as três áreas do conhecimento. Mais de um quarto dos estudantes dos EUA eram de baixo desempenho em matemática. Mas poucas pessoas estão perguntando quais lições significativas podemos extrair do sucesso da Estônia.

Por exemplo, muitos pesquisadores e educadores dos EUA argumentam que é enganoso e inútil comparar os Estados Unidos com qualquer país com alto desempenho devido às diferenças demográficas e culturais. E realmente, esses argumentos sempre foram os primeiros utilizados pra não se realizar mudanças ou investimentos seguindo o modelo Finlandês ou Estoniano. Aliás, esse argumento também costuma ser utilizado no Brasil em qualquer assunto envolvendo igualdade social e serviços públicos de qualidade. Mas no caso americano vale lembrar que, no pós-guerra, os baby-boomers, receberam investimentos fortes em educação e ciência nas décadas de 50 e 60, mas caíram drasticamente nos anos 70 em diante.

Escolha pelo Ensino Público Universal

Após a queda da Cortina de Ferro, outros antigos satélites soviéticos, como a Hungria e a República Tcheca, passaram para um sistema preferencialmente adequado às necessidades de suas elites. A Estônia, no entanto, manteve oportunidades de igualdade para estudantes de todas as origens.

Embora haja menos desigualdade de renda na Estônia do que nos Estados Unidos – e, com 1,3 milhão de pessoas, o país é significativamente menor – a nação do banhada pelo oceano Báltico (mas não culturalmente báltica e sim nórdica, para muitos estonianos) também tem sua participação na diversidade cultural. Quando alcançou a independência da União Soviética há 26 anos, o estoniano tornou-se a língua oficial e a língua da instrução escolar. No entanto, cerca de um quinto dos alunos provêm de famílias que ainda falam russo em casa e, historicamente, ficaram para trás de seus homólogos nativos em se tratando de testes como o PISA.

Com o país moderno e independente, a decisão governamental passou a ser priorizar os investimentos em Educação. Atualmente, o Estado investe 6% do PIB (Produto Interno Bruto) no ensino. Em termos percentuais, é o mesmo que o Brasil. Mas na hora de esmiuçar os dados, considerando PIB per capita e número de alunos na rede, notam-se discrepâncias.

No Brasil, o PIB per capita é de R$ 31 mil, de acordo com dados da OCDE referentes ao ano de 2017. Na Estônia, é o equivalente a R$ 110 mil. Enquanto o governo brasileiro investe, no ensino básico, R$ 6,6 mil por aluno ao ano, o governo estoniano aplica o equivalente e R$ 28 mil.

Se comparado com o Brasil o valor é alto, comparado com os outros países europeus, não chega a impressionar. A média da União Europeia, bloco que conta com a Estônia desde 2004, é de cerca de R$ 41 mil por aluno ao ano.

Alunos mais pobres são a razão da colocação no PISA

Aliás, importante ressaltar que  o desempenho da Estônia no PISA não usa os alunos pobres como desculpas por achar que poderia ter um desempenho melhor. Pelo contrário: é por causa deles que esse desempenho é tão bom.

Embora os alunos possam vir de origens diversas, as escolas da Estônia lhes dão experiências educacionais muito semelhantes. Ao abraçar estudantes de todas as origens e níveis de renda, a Estônia conseguiu não apenas em exames, mas em um objetivo que muitos políticos, educadores e defensores dizem que os Estados Unidos deveriam também alcançar: criar um sistema educacional baseado na equidade. A ideia é um escudo da era soviética e um que o país pretende manter mesmo que continue a lidar com a forma de modernizar suas escolas e reduzir ainda mais as pequenas diferenças (gap) de performance entre seus alunos.

“Nós conseguimos manter a educação muito uniforme. Isso funcionou.”

Jürgen Ligi, ministro da Educação da Estônia

No exame de matemática PISA de 2012, mais de um terço dos estudantes de baixa renda estavam entre os melhores desempenhos do país. A Estônia teve a segunda menor diferença de desempenho entre os estudantes mais pobres e ricos de todos os países participantes conhecidos como Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos resultados do PISA de 2015, de acordo com o estudo, o conhecimento e as habilidades dos jovens estonianos de 15 anos em biologia, geografia, física e química estão entre os melhores do mundo – o primeiro na Europa e o terceiro na escala global. O número de melhores desempenhos que podem resolver tarefas extremamente complicadas, é maior do que nunca – ficando em 13,5%, enquanto a média da OCDE é de 8%. Entre os países europeus, a Estônia tem o menor dos de baixo desempenho – mais da metade do que as médias de outros países, informou o ministério da educação da Estônia em um comunicado.

“O que [nós] vimos na Estônia não era um novo sistema educacional, era antigo”, diz Tucker. “Por conta disso, eles não mudaram o sistema depois que o muro caiu …”. Não é de se surpreender que continuem a obter excelentes resultados “.

Autonomia e liberdade em sala de aula

As diretrizes do ensino estão no currículo nacional. Mas como aplicá-las fica, em grande parte, a critério de cada escola. Isso significa que as metodologias e até mesmo os ambientes de sala de aula podem ser definidos de acordo com o plano dos professores. “O currículo determina os resultados gerais. A maneira de alcançá-los é escolhida pelos professores”, diz a ministra. O currículo é constantemente atualizado.

“Na Estônia, as escolas e os professores desfrutam de um elevado grau de autonomia na tomada de decisões em todos os aspectos da aprendizagem e do ensino”, completa.

Essa descentralização se tornou regra após a dissolução da União Soviética. Foi quando o governo decidiu dar liberdade às escolas, exigindo delas, por outro lado, a responsabilidade quanto às diretrizes.

De forma geral, as matérias são ensinadas de forma integrada, ou seja, sem a divisão clássica entre as disciplinas. As competências mais valorizadas são “aprender a aprender”, ética, empreendedorismo e educação digital. Todos os professores devem ter mestrado em suas áreas de atuação.

Durante o período escolar, os alunos precisam aprender língua e literatura estonianas, primeira e segunda línguas estrangeiras, matemática, biologia, geografia, física, química, humanidades, história, civismo, música, arte, artesanato, tecnologia e educação física.

Avaliações constantes

Existem muitos fatores que podem contribuir para o sucesso da Estônia no PISA, além do foco na igualdade. A educação continua sendo frequentemente avaliada. A autonomia do professor é relativamente alta, o que demonstrou estar relacionado a melhores resultados de testes. Os professores ficam com os mesmos alunos da  primeira a  terceira séries – ou às vezes até a sexta série – permitindo que se desenvolvam relacionamentos profundos, espírito de responsabilidade e comprometimento. Muitos funcionários e educadores dizem que os professores na Estônia são bons em apoiar os alunos, impedindo que eles tomem outros caminhos.

Mas muitos educadores disseram que a ênfase em dar a todos uma experiência educacional similar é uma peça fundamental do quebra-cabeça. Eles afirmam que realmente seguem o caminho de que todos são iguais.  

“Não importa que tipo de família você venha que mesmo assim você pode conquistar muitas coisas”

Karin Lukk – diretora da Tartu Kivilinna Ko, uma escola de primeira a nona séries na segunda maior cidade da Estônia

Essa abordagem começa desde os primeiros passos. A educação infantil é gratuita a partir de 18 meses (quando a licença-maternidade remunerada ou a licença de paternidade terminam). Todo mundo recebe essa gratuidade. A faculdade também é gratuita. Há escolas privadas, o que poderia ser visto como uma ameaça crescente para a educação pública, mas ainda são uma fatia relativamente pequena do sistema educacional. As escolas estonianas são muitas vezes economicamente integradas, de modo que estudantes pobres e ricos frequentam regularmente as mesmas salas de aula.

Em comparação, nos Estados Unidos, os alunos não têm a mesma experiência educacional. A qualidade da assistência à infância e as escolas variam muito dependendo da renda. Em se tratando de Brasil, o abismo é muito maior. Famílias com mais dinheiro geralmente têm acesso aos melhores centros de assistência à infância e a maioria das faculdades de elite nos EUA, onde os alunos graduados saem da Faculdade com dívidas exorbitantes já com seus 22, 23 anos. No Brasil ainda tem suas melhores faculdades públicas, mas seu acesso costuma premiar os alunos que cursaram as melhores escolas, que em geral são as privadas, apesar do sistema de cotas há mais de 10 anos ter tentado reduzir essa diferença.

As escolas Norte-americanas  também são freqüentemente segregadas tanto pela raça quanto pela renda, com alunos pobres  frequentemente com menos recursos e professores menos experientes. No Brasil essa mesma experiência de segregação raça e renda é também muito perceptível mesmo com as atuais políticas afirmativas de inclusão racial e social nas universidades.

Separação de turmas por rendimento não trouxe bons resultados

As divisões para estudantes americanos também ocorrem dentro das escolas. Um estudo de 2016 do Brookings Institute descobriu que, em média, os estados rastreiam (tracking) os melhores alunos em mais de 75%  do 8o. ano em matemática, o que significa que eles podem ser realocados na linha do ensino médio que determina qual nível de aulas de matemática eles terão no último ano do ensino médio. O estudo descobriu, no entanto, que quanto mais  rastreamento (e consequente separação) de melhores alunos em um estado existir, melhores são os resultados para apenas estes alunos que terminam em um nível superior nas turmas.

Já para os alunos das categorias inferiores, com pior rendimento, outras pesquisas sugerem que o rastreamento não é útil. Em um estudo de 2015, os pesquisadores que analisam os resultados do PISA e as respostas sobre pesquisas de estudantes sobre o tipo de tópicos de matemática que são ensinados descobriram que estudantes de origens menos favorecidas em todos os países participantes são ensinados em uma matemática menos difícil e geralmente apresentam pior situação na avaliação. Eles argumentam que “as fraquezas de seus cursos de matemática realmente impedem os estudantes de baixa renda de recuperar o atraso”.

Ou seja, a experiência americana, que também é difundida e influente no Brasil entre as escolas privadas desde a criação das avaliações do Ensino Médio, criam uma maior distância entre os alunos de uma mesma escola. Muitas escolas brasileiras separam até fisicamente entre suas unidades e se utilizam do nome da instituição para divulgar a nota alta atingida pelas turmas dessas escolas com os melhores alunos para efeito de propaganda e captação de mais alunos. Quando na verdade a média real – de todos os alunos de uma mesma marca escolar independente de localização física – é muito mais baixa.

A diferença de rendimento de entre os estudantes mais ricos e os mais pobres é a menor da OCDE 

A Estônia tem a menor distância (gap)  dos países da OCDE entre estudantes de baixa e alta renda no tipo de matemática pela qual são ensinados e uma das menores variações no desempenho. Esse estudo de 2015 tentou separar o quanto a instrução que um aluno recebe na escola contribui para suas pontuações. Se a vida familiar ou outros fatores além do controle da escola fossem o único determinante, os pesquisadores não encontrariam nenhuma relação. Em vez disso, eles descobriram que, em média, nos países da OCDE, as diversas oportunidades educacionais dos estudantes explicaram 33% da diferença de pontuação entre estudantes de baixa e alta renda. Nos Estados Unidos, era de 37%, enquanto na Estônia era apenas 16%.

A conclusão que posso ter é que a desigualdade [nos resultados dos exames] devido à escolaridade nos EUA não deveria existir, porque há outros países em que a porcentagem dessa desigualdade é muito menor, e a capacidade de investimento norte-americana aparentemente é muito maior que muitos desses países.

As escolas estonianas seguem um currículo nacional que determina o que os alunos devem abordar em cada disciplina todos os anos até o 9o. ano. Nesse ponto, os alunos decidem se vão ao ensino médio por mais três anos, onde se concentram em acadêmicos ou na escola profissional para se preparar para uma carreira específica (semelhante ao ensino técnico).  Escolas podem exigir exames de admissão diferentes, vestibulares independentes, mas os alunos que querem ir ao ensino médio quase sempre são capazes de fazê-lo, de acordo com funcionários e educadores.

A maioria dos alunos, cerca de dois terços, escolhe o ensino médio (e não o ensino técnico), de acordo com o Ministério da Educação e Pesquisa da Estônia. Nas escolas maiores, eles também podem escolher uma área de estudo – como ciência e matemática ou humanidades. No entanto, assa escolha é baseada no interesse e não nos resultados ou notas anteriores. E os alunos ainda seguem um conjunto comum de cursos que garante que os alunos tenham habilidades básicas em todos os assuntos.

No entanto, cabe à escola descobrir como todos os alunos alcançam esse conjunto de habilidades comuns. As escolas estonianas são livres para separar estudantes, no entanto, eles querem, desde que aprendam o mesmo material em cada série.

Konguta Kool – uma escola primária em uma pequena aldeia a cerca de uma hora a leste de Tartu – teve algum sucesso quando dividiu seus alunos em grupos de alto e baixo desempenho, mas, finalmente, não teve gente suficiente para manter o sistema.

No final da década de 1990, educadores da Tartu Kivilinna Kool separaram seus alunos em três grupos para aulas de matemática: alta, média e baixa. Em cada nível, os 950 alunos da escola seguiram o mesmo currículo básico, mas se moviam a diferentes velocidades ou, em alguns casos, para os alunos mais avançados, mergulhavam mais profundamente no material. Era um começo para o que tinham feito sob o sistema soviético.

Mas, até 2008, abandonaram a prática. “Não funcionou”, afirma Lukk. O grupo mais baixo “não se desenvolveu de forma alguma. Eles apenas vegetaram “.

“O meu problema é se podemos manter [os resultados do teste] ao estressar a criatividade. Será que isso é um conflito? “

Alunos da Konguta Kool no laboratório de luz e som da escola.

Um método de ensino utiliza os computadores para um aquecimento para uma aula de matemática, por exemplo. Os alunos realizam o login em seus laptops e se inscrevem em um programa para adição prática. Em seguida, uma série de perguntas de múltipla escolha se inicia com ode 1 + 1 para em 2 ou e minutos, estarem com problemas como 2589 + 1233.

A escola faz uso de exercícios como este para que os alunos possam praticar os cálculo de cabeça. Mas os professores também tentam planejar lições que conectam matemática à vida real. As escadas para o nível inferior da escola são marcadas com números negativos descendentes – durante o inverno, eles usam-nos para marcar a temperatura. Um muro está coberto de gráficos: resultados de uma pesquisa do pão favorito dos alunos ou números de quantas vezes diferentes aves foram vistas no jardim.

A escola geralmente tira notas altas no exame nacional que seus alunos realizam no final da sexta série, (segundo a professora de inglês Katrin Libe). Contudo, esses resultados não são publicamente disponíveis; Os alunos da Estônia são testados uma vez a cada três anos e os resultados do nível escolar são publicados apenas no final do 12º ano.

Debates e sugestões constantes

E enquanto as escolas da Estônia estão atualmente se beneficiando de aderir ao antigo sistema, também há mudanças que tem se arrastado para serem implementadas e isso pode prejudicar seu foco acadêmico. Debates as escolas entre professores e psicólogos apresentam sugestões como a de que a educação inicial deveria se concentrar mais nas habilidades emocionais e sociais do que começar a estabelecer as bases para os estudos acadêmicos. A escola possui uma creche, que matricula estudantes de até 18 meses de idade.

Educadores em toda a Estônia estão lidando com novas ideias e filosofias de ensino, tentando reconciliá-las com o sistema mais rígido que existia. Esta discussão não é diferente das conversas no Brasil e nos EUA, já que a maioria dos estados se deslocam para os Padrões Comuns do Estado Central, o que levou a mudanças importantes na forma como os professores estruturaram suas aulas para se adequarem as diretrizes de ordem superior.

O sistema educacional tradicional da Estônia ainda é favorável a mais salas de aula centradas no professor e enfatiza a aprendizagem de fatos sobre o desenvolvimento de habilidades mais gerais. Geralmente, atende as necessidades do país quando se trata de testes, então há uma relutância em mudar completamente. Afinal, o índice PISA é relevante para análise comparativa da educação.

Mas em todo o país, os formuladores de políticas e os educadores falam sobre a necessidade de produzir estudantes que possam fazer mais do que irem bem em um teste,que talvez se tornem empresários e líderes criativos. Os educadores também estão preocupados com o fato de se concentrar no estudante médio e trazer os menos empreendedores para esse padrão e que isso aconteça às custas de apoiar os alunos talentosos.

A filosofia da educação da Estônia precisa mudar, e está mudando como afirmam muitos educadores, para um que tenha mais foco nos estudantes como indivíduos e os direcione mais do que acontece na sala de aula.

No entanto, pode ser difícil conseguir que os professores renunciem às formas tradicionais e, muito menos, atraiam bons recrutas para a profissão de professor quando o salário ainda está entre os mais baixos da Europa. Mesmo que a formação de professores tenha sido completamente revisada na Universidade de Tartu para colocar mais ênfase na forma de ensinar o pensamento crítico dos alunos e a comunicação e menos no conhecimento do conteúdo, os funcionários dizem que está demorando um pouco na prática dentro da sala de aula.

E um aumento nos gráficos não produziu consenso, entre professores ou alunos. Nas pesquisas de estudantes da PISA, dois terços dos estudantes da Estônia disseram que estão felizes em sua escola, um dos níveis mais baixos nos países da OCDE.

Professores e escolas estonianos estão determinados

O ministro da Educação da Estônia, Mailis Reps, disse que os resultados mostraram que as escolas da Estônia são ambiciosas e os professores estão muito determinados em seus trabalhos. “Desenvolvemos nosso sistema educacional, trabalhando nos princípios corretos, porque o efeito dessas mudanças também será visto em 10-15 anos”, disse ela. “Estou feliz por termos assegurado e mantido o status de um país superior no campo da educação, apesar dos nossos meios mais ausentes em comparação com outros países”.

Com informações do Brookings InstituteProgramme for International Student Assessment (PISA), Ministério da Educação e Pesquisa da Estônia

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1 thought on “Como o ensino público e universal vem transformando a Estônia e já é o melhor da Europa

  1. Excelente artigo. Nunca imaginei tanto avanço assim por lá. Um ótimo espelho para o BR. Abraço!

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