Homem paraplégico volta a andar por meio de implantes controlados pelo pensamento e inteligência artificial

Pesquisadores disseram na quarta-feira que um homem paraplégico recuperou pela primeira vez a capacidade de andar suavemente usando apenas seus pensamentos, graças a dois implantes que restauraram a comunicação entre o cérebro e a medula espinhal. Gert-Jan, o paciente, afirmou que a descoberta lhe havia concedido “uma liberdade que eu não tinha” anteriormente.

foto. FABRICE COFFRINI/AFP/East News

Um homem paralisado recuperou a capacidade de andar suavemente usando apenas seus pensamentos pela primeira vez, disseram pesquisadores na quarta-feira, graças a dois implantes que restauraram a comunicação entre o cérebro e a medula espinhal.

O paciente Gert-Jan, que não quis revelar seu sobrenome, disse que a descoberta lhe deu “uma liberdade que eu não tinha” antes.

O holandês de 40 anos ficou paralisado nas pernas por mais de uma década depois de sofrer uma lesão na medula espinhal durante um acidente de bicicleta.

Mas, usando um novo sistema, ele agora pode andar “naturalmente”, enfrentar terrenos difíceis e até subir escadas, de acordo com um estudo publicado na revista Nature.

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O avanço é resultado de mais de uma década de trabalho de uma equipe de pesquisadores na França e na Suíça.

No ano passado, a equipe mostrou que um implante na medula espinhal que envia pulsos elétricos para estimular o movimento nos músculos das pernas permitiu que três pacientes paralisados voltassem a andar.

Mas eles precisavam apertar um botão para mover as pernas a cada vez.

Gert-Jan, que também tem o implante espinhal, disse que isso torna difícil entrar no ritmo de dar um “passo natural”.

  • ‘Ponte digital’ – A pesquisa mais recente combina o implante espinhal com uma nova tecnologia chamada interface cérebro-computador, implantada acima da parte do cérebro que controla o movimento das pernas. A interface usa algoritmos baseados em métodos de inteligência artificial para decodificar gravações cerebrais em tempo real, disseram os pesquisadores.

Isso permite que a interface, projetada por pesquisadores da Comissão de Energia Atômica da França (CEA), descubra como o paciente deseja mover as pernas a qualquer momento.

Os dados são transmitidos ao implante medular por meio de um dispositivo portátil que cabe em um andador ou mochila pequena, permitindo que os pacientes se desloquem sem a ajuda de outras pessoas.

Os dois implantes constroem o que os pesquisadores chamam de “ponte digital” para cruzar a desconexão entre a medula espinhal e o cérebro que foi criada durante o acidente de Gert-Jan.

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“Agora posso fazer o que quero quando decido dar um passo, o estímulo começa assim que penso nisso”, disse Gert-Jan.

Depois de passar por duas cirurgias invasivas para implantar os dois dispositivos, “foi uma longa jornada para chegar aqui”, disse ele em entrevista coletiva na cidade suíça de Lausanne.

Mas, entre outras mudanças, ele agora pode voltar a ficar em um bar com os amigos enquanto toma uma cerveja.

“Este simples prazer representa uma mudança significativa em minha vida”, disse ele em um comunicado.

  • ‘Radicamente diferente’ – Gregoire Courtine, neurocientista da École Polytechnique Federale de Lausanne, na Suíça, e co-autor do estudo, disse que era “radicalmente diferente” do que havia sido realizado antes.

“Pacientes anteriores andavam com muito esforço agora basta pensar em caminhar para dar um passo”, disse ele em entrevista coletiva na cidade suíça de Lausanne.

Houve outro sinal positivo: após seis meses de treinamento, Gert-Jan recuperou parte da percepção sensorial e das habilidades motoras que havia perdido no acidente.

Ele até conseguiu andar com muletas quando a “ponte digital” foi desligada.

Guillaume Charvet, pesquisador do CEA da França, disse à AFP que isso sugere “que o estabelecimento de uma ligação entre o cérebro e a medula espinhal promoveria uma reorganização das redes neuronais” no local da lesão.

Então, quando essa tecnologia poderia estar disponível para pessoas paralisadas em todo o mundo? Charvet alertou que levará “muitos anos de pesquisa” para chegar a esse ponto.

Mas a equipe já está preparando um teste para estudar se essa tecnologia pode restaurar a função dos braços e das mãos.

Eles também esperam que isso se aplique a outros problemas, como paralisia causada por derrame.

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