Físicos apresentam plano ambicioso para enviar uma sonda além do espaço interestelar

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Aqui está a ilustração inspirada no conceito de uma missão interestelar utilizando feixes de elétrons relativísticos para impulsionar uma espaçonave equipada com avançados instrumentos científicos. Créditos:DALL-E Imagem criada por IA

Enviar uma espaçonave para outra estrela é um dos maiores desafios da ciência espacial moderna. Apesar das dificuldades, cientistas e engenheiros continuam trabalhando em soluções inovadoras para superar esses obstáculos.

Entre as iniciativas mais notáveis estão o projeto Breakthrough Starshot e a Tau Zero Foundation, ambas focadas em um tipo específico de propulsão: o uso de energia transmitida por feixes, conhecida como propulsão de potência direcionada.

Um Novo Conceito de Propulsão

Em um artigo recente, Jeffrey Greason, presidente do conselho da Tau Zero Foundation, e Gerrit Bruhaug, físico do Laboratório Nacional de Los Alamos especializado em física de lasers, exploram a possibilidade de utilizar feixes de elétrons relativísticos para impulsionar espaçonaves. Esse conceito, denominado Sunbeam, apresenta uma abordagem promissora para enviar sondas interestelares a velocidades significativas.

Uma das principais questões no design de missões desse tipo é o peso da espaçonave. Projetos como o Breakthrough Starshot propõem sondas extremamente leves, equipadas com grandes “asas solares”, que seriam impulsionadas por um feixe de laser em direção a Alpha Centauri. No entanto, sondas tão pequenas enfrentam limitações significativas na coleta de dados científicos quando chegam ao destino, sendo mais demonstrações tecnológicas do que missões científicas completas.

Representação do feixe de elétrons de estatita usado no estudo Traduções livres de cima para baixo: Matriz termiótica (Thermiotic Array), Sombra (Shadown), Bobinas RMF (RMF Coils) (Pareadas), Feixe (Beam), Emissor de Feixe (Beam Emitter), Tubo de Tração (Drift Tube), Tethers/Wires (Amarras/Fios), lado voltado para o sol (Sunward Side) Fonte: Greason & Bruhaug.

O artigo de Greason e Bruhaug, por outro lado, analisa a viabilidade de sondas maiores, de até 1.000 kg – comparáveis em tamanho às sondas Voyager, lançadas na década de 1970. Com tecnologias mais avançadas disponíveis atualmente, seria possível equipar essas sondas com instrumentos científicos e sistemas de controle muito mais sofisticados.

Por Que um Feixe de Elétrons?

Enquanto o Breakthrough Starshot planeja utilizar feixes de laser no espectro visível, a proposta de Greason e Bruhaug considera o uso de feixes de elétrons relativísticos. Essa escolha apresenta várias vantagens. Primeiramente, acelerar elétrons a velocidades próximas à da luz é relativamente fácil em comparação com outros tipos de partículas. Além disso, um fenômeno conhecido como pinçamento relativístico, observado em aceleradores de partículas, minimiza a repulsão entre os elétrons, permitindo que o feixe mantenha sua coerência e força a distâncias extremas.

De acordo com os cálculos apresentados no artigo, esse tipo de feixe poderia fornecer propulsão efetiva até 1.000 unidades astronômicas (UA) – muito além do alcance de qualquer sistema de propulsão conhecido. No final do período de aceleração, uma sonda de 1.000 kg poderia atingir até 10% da velocidade da luz, possibilitando uma viagem até Alpha Centauri em cerca de 40 anos.

Desafios Tecnológicos

Apesar das promessas, a implementação desse conceito enfrenta inúmeros desafios. Um dos principais é a geração de um feixe de alta energia capaz de sustentar a propulsão a longas distâncias. Para uma sonda a 100 UA, seria necessário um feixe com energia de até 19 gigaelétron-volts – um valor elevado, mas dentro das capacidades da tecnologia atual, como demonstrado pelo Grande Colisor de Hádrons (LHC).

Outro aspecto crítico é a captura dessa energia no espaço. Os autores sugerem o uso de uma plataforma chamada statite solar. Este dispositivo ficaria estacionado próximo ao Sol, utilizando uma combinação da pressão da luz solar e de campos magnéticos para equilibrar sua posição no intenso campo gravitacional solar. O statite também seria protegido por um escudo solar massivo, permitindo operar em temperaturas extremas.

Essa plataforma seria posicionada a uma distância similar à da sonda Parker Solar Probe, que já demonstrou a viabilidade de construir materiais capazes de suportar o calor próximo ao Sol.

Viagem Interestelar: Ficção ou Realidade?

Embora grande parte desse conceito ainda esteja no campo da ficção científica, a ideia demonstra que é possível planejar missões interestelares viáveis com avanços relativamente modestos nas tecnologias existentes. Os autores, que discutiram a proposta inicialmente no servidor Discord ToughSF – um espaço para entusiastas de ficção científica –, mostram que o sonho de explorar estrelas próximas pode estar mais próximo de se tornar realidade.

Essa abordagem inovadora destaca a criatividade e a ambição dos cientistas na busca por respostas para um dos maiores desafios da humanidade: alcançar as estrelas.

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