Leite materno protege o fígado dos bebês, conclui estudo da UFMG

Programa de maturação do sistema imune do fígado é regulado pela amamentação Foto: Amy Bundy / CC BY-NC 2.0

No Brasil, só 41% das crianças são amamentadas exclusivamente com leite materno até os seis meses, como a Organização Mundial da Saúde recomenda.

Pesquisa do ICB revela que função imunológica predomina em fígado de recém-nascidos.

Professor Gustavo Menezes, coordenador da pesquisa, falou sobre o trabalho no programa Conexões.

O leite materno é o alimento mais importante para as crianças recém-nascidas. Nos seis primeiros meses de vida, os bebês ainda não têm a necessidade de nenhum outro componente nutritivo. Uma pesquisa feita por alunos do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular da UFMG demonstrou que uma das contribuições do leite materno se dá no fígado dos recém-nascidos.

De acordo com o trabalho, nos primeiros meses de vida do ser humano, o fígado exerce uma importante função em relação à imunidade do organismo. A atividade desse órgão, nos recém-nascidos, seria predominantemente imunológica, em vez de metabólica.

O professor Gustavo Menezes, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, coordenador do trabalho, falou sobre os resultados da pesquisa em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quarta-feira, 12.

“O fígado é como se fosse o berço de todas as células de defesa que vão funcionar a vida inteira. Nesse momento inicial da vida, quando o fígado está ainda amadurecendo, o leite materno é um alimento que já vem pronto da mãe para o filho. É como se mãe poupasse o fígado de precisar exercer funções de digestão porque ela já fez esse papel para ele através do leite materno. O que nós percebemos com a pesquisa é que se nós adiantarmos esse desmame drásticas mudanças acontecem no fígado”, explica Gustavo Menezes, coordenador da pesquisa.

A pesquisa foi feita em camundongos. Os que se alimentaram só de leite materno não tiveram alteração no metabolismo. Os que receberam outros alimentos no começo da vida, além de alteração no metabolismo, tiveram mais chance de reduzir a imunidade e sofreram mudanças genéticas.

“Isso pode, por exemplo, ser a chave para explicar por que doenças que podem envolver alergia alimentar, câncer, fibrose hepática, doenças hepáticas gordurosas, por exemplo, podem acometer uns adultos e outros não”, completa Menezes.

A partir dos resultados dessa pesquisa, os cientistas desenvolveram um teste simples, feito com uma amostra de sangue do bebê, que pode indicar se a criança já está preparada para ingerir outros tipos de alimento. O exame pode detectar células de defesa que só estão presentes no nosso corpo durante os primeiros meses de vida. A mãe do Miguelzinho, que acabou de nascer, garante que ele vai ter imunidade para a vida toda.

“Acho a amamentação superimportante. Só tem benefícios para o filho da gente, que é a pessoa que a gente mais ama”, afirma Joislaine.

O artigo da descoberta foi publicado pelo Journal of Hepatology, em agosto. O estudo foi capa do Boletim UFMG desta semana.

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